A direcção do Jornal de Barcelos demitiu-se depois de, alegadamente, ter sofrido pressões de Domingos Pereira, vice-presidente da câmara municipal da cidade, que não queria que fosse denunciado o escândalo com a gestão de fundos comunitários em que se envolveram a Associação Comercial e Industrial de Barcelos (ACIB) e o seu presidente, João Albuquerque.

“As mais recentes tentativas de ingerência de Domingos Pereira nas opções editoriais do Jornal de Barcelos são intoleráveis, antidemocráticas, violam grosseiramente os princípios constitucionais da liberdade de imprensa, liberdade de expressão e comunicação, desobedecem à Lei de Imprensa e ao Estatuto do Jornalista e, por último, consubstanciam uma atitude desonrosa e inapropriada com as funções públicas que exerce”, diz o editorial do jornal que, no passado dia 7 de Julho, apenas foi distribuído aos assinantes na sua versão electrónica.

Em declarações ao jornal Público, o administrador da Cooperativa Barcelense de Cultura, Carlos Pina, negou que a decisão de encerrar tivesse origem em pressões de Domingos Pereira. Diz que o jornal não conseguiu atingir as metas financeiras definidas em 2011 e que nem sequer tinha “dinheiro para pagar a impressão”. “Os objectivos eram fundamentalmente que os prejuízos não se estendessem de uma maneira que se tornasse impossível – chamar mais clientes e publicidade. Tudo isso era do conhecimento do diretor do jornal e outros accionistas. Verificaram-se que esses objectivos não tinham sido atingidos”, justificou Carlos Pina.

Domingos Pereira foi recentemente condenado a perda de mandato e a uma pena de dois anos e dez meses de prisão, suspensa na sua execução, por crime de corrupção passiva agravada. Segundo o jornal O Minho a condenação aconteceu por causa de um envelope com dez mil euros apreendido pela PJ de Braga em casa do autarca. O tribunal considerou provado que o dinheiro lhe foi oferecido por uma mulher, para que ele, na altura – janeiro de 2016 – com o pelouro dos recursos humanos, arranjasse um “emprego para a vida” ao seu filho, o jurista José Figueiredo. Ao jornal O Minho, Domingos Pereira não quis prestar declarações sobre as denúncias de pressões por parte do director do Jornal de Barcelos para “não alimentar novelas”.